Oasis – A volta.
Por JP Bueno
Em mais um sinal de que vivemos a “cultura da nostalgia” tivemos a notícia que surpreendeu toda uma geração de velhos roqueiros – e de novos também! A volta da banda mais polêmica do britpop dos anos 90, a alquímica e explosiva Oasis, que tem na figura dos irmãos Gallagher seu epicentro caótico e fascinante.
Para quem viu e viveu o auge da banda o retorno parece um milagre – ou mais uma incrível jogada de marketing que é tão importante para o rocknroll quanto acordes e riffs de guitarra – mas para você que nasceu e só conheceu a banda pelo que seus pais falavam, eis os comentários de quem estava lá – e espero explicar um pouco desse fascínio em torno da banda, que é mais uma dupla na verdade, pois falando sério, ninguém liga para os três bateristas que passaram pela banda, do carinha do Ride que assumiu o baixo na fase em que tudo foi ladeira abaixo e nem mesmo para Paul Bonehead, o co-fundador da banda. Se os Beatles conseguiram ao longo da carreira mostrar que eram mais que apenas a banda do Paul e do John, no caso do Oasis esta sempre foi a banda do Liam e do Noel (ou do Noel e do Liam, a depender de sua preferência)
Primeiro, tem a questão tempo. Eles arrombaram a cena de rock há 30 anos, causando barulho, comoção e opiniões conflitantes. Vi essa história do alto de minha juventude adulta – e devo confessar que não me apaixonei na primeira escutada, talvez tenha sido na segunda, a memória vai pregando peças, mas lembro que foi ainda no primeiro disco, ou com Supersonic ou com Live Forever...
Grande parte do mundo do rock alternativo nos anos 90 embarcou na onda do Oasis, era um cenário que vivia nessa gangorra entre o underground de selos pequenos que lançavam bandas como a Guided By Voices, no caso a Matador Records, e a busca de grandes gravadoras como a Geffen que buscavam no underground um novo som, exemplo é a banda Weezer.
O Oasis apareceu com a música certa e a atitude mais certa ainda.
Uma combinação irresistivel.
De 1995 pra cá, sendo bem honesto, dentro do rock apareceram e até aparecem muitos artistas e bandas legais, mas perto do que o Oasis alcançou, acho que ninguém! O que nos faz pensar sobre esse retorno como sendo mais um elemento dessa “cultura da nostalgia” que predomina, afinal, ficamos felizes com o retorno deles por termos a chance de rever uma de nossas bandas preferidas, ou é apenas pela falta de bandas e artistas que realmente produzam algo inovador, criativo e interessante? São questões.
Talvez por isso que a volta deles tem causado essa enxurrada de vídeos, reações mundo afora e o revival que é sim um misto de nostalgia por parte da galera de mais de quarenta (sim, estamos ficando velhos, rapazes) mas temos também um certo ar de novidade para uma turma mais nova que tem abraçado com certo entusiasmo a causa dos coroas cringe.
Tem um marketing muito forte em cima? Tem, sempre teve, mas adianta nada um marketing bom se o produto não for legal, certo? - estou pensando em vocês, Avengend Sevenfold e Måneskin.
E o Oasis tem ingredientes de sobra nesse ponto.
Separados, os dois Gallaghers funcionam bem, Liam tem boas platéias, Noel tem boas platéias. Mas todo mundo fica esperando quais músicas do Oasis eles vão tocar e se vão dar alguma cutucada no irmão.
E tem a constante troca de farpas entre os dois, e por mais que tenha ou se tente imputar algum tipo de marketing nessa rixa, vemos com certo prazer o olhares de saco cheio do Liam pro Noel quando ele está solando, e de quando Noel faz ainda mais barulho com sua guitarra para abafar a voz do Liam, isso são coisas que não se finge, não se inventa em uma reunião de marketing, não no caso deles.
No fim, por que o Oasis vale a pena?
Vale por causa da força e da briga e do enorme talento dos dois irmãos!
Noel foi o cara que inteligentemente imputou coisas ao Oasis que ajudaram a banda a ser o que ela é hoje.
De cara temos as composições. Músicas feitas na melhor tradição britânica de canção de rock, puxada lá dos anos 60 de John Lennon, de Graham Nash (Hollies), de Davida Bowie, de Ray Davies (Kinks), essa turma.
Depois o visual, e me concentro no logo da banda que é escrito em caixa alta num retângulo, pensado assim para fazer os fãs de discos lembrarem dos selos Decca e Deram, dois selos tradicionais, icônicos e ingleses. Não é apenas um logo, é uma forma de se alinhar a um legado musical.
Por fim a guitarra mais usada por Noel é uma Gibson Les Paul, a mesma guitarra que Jimmy Page (Led Zeppelin) , Mark Ronson e Marc Bolan (T.Rex) e moldaram o som inglês dos anos 70.
Da parte do cantor Liam, é o carisma e magnetismo puro. Ele parado com cara de poucos amigos no palco sem se mexer, faz com que fixemos nossos olhos esperando o que ele vai aprontar.
Ele traz a tradição da prepotência e confiança de um Rod Stewart e o desleixo meio maloqueiro estudado de um Ian Brown (do Stone Roses, a banda que devia ter sido o que o Oasis virou).
Essa combinação/competição de dois talentos brutos, um se esgoelando contra a guitarra alta do irmão faz o fogo do Oasis ser realmente de verdade.
Pelo menos foi assim nos 3 primeiros discos: Defintely Maybe, Morning Glory e Be Here Now, bem mais nos dois primeiros e um gigante exagero no terceiro.
Mas as canções desses discos permaneceram até hoje.
Sim, eles são dos grandes, se passarem por aqui, vou ser dos primeiros a comprar o ingresso e estar lá para celebrar a banda. Estive no primeiro show, no Sambódromo, em 1997 ou 1998... foi insano! Barulhento, com um Liam completamente alucinado, mas um repertório entregue na sua máxima potência e excelência. Se voltarem com um décimo dessa vontade e dessa faísca já vai ter valido a pena.
E a briga deles?
É real, é bíblica, remete a Caim e Abel, é rocknroll, eleva à enésima potência os conflitos de Lennon e McCarney, é noveleira, quem aí não lembra de Ruth e Raquel? - é mitológica e universal!
Eis outro componente irresistível nessa volta – e as casas de aposta já estão fervendo tentando vaticinar e ganhar uns milhões com a pergunta – até quando essa paz fraterna vai durar?
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JP Bueno vive entre discos e música, entre músicas e discos. É dono da Casa da Mia Discos, o lugar para quem ama o bom som do vinil!