A arte da Pixar, pt.04
Patinhos feios
Por
1. De Carros 2 a O Bom Dinossauro: um interlúdio de patinhos feios.
Dos primeiros onze filmes da Pixar, Carros foi o único que não foi unanimidade junto à critica, que parece não ter aceitado muito sua mensagem clássica, de viés claramente conservador. Em contrapartida, o filme foi um sucesso junto ao público, que não liga lá tanto assim para as bobagens que os críticos escrevem; o filme é uma das mais bem sucedidas marcas da Pixar, e possui o maior faturamento de produtos licenciados de todas os personagens criados por Lasseter e sua equipe. Além disso, lembremos que a produção tinha como codiretor Joe Ranft, o que fazia dele uma delicada homenagem ao gigante gentil.
Era claro que o diretor de "Carros", John Lasseter, sentia-se emocionalmente ligado ao filme, e que ele não aceitou bem as críticas rasas feitas à obra. Cinco anos depois, quase como um ato de provocação, ele entregou Carros 2, uma sequência visualmente impressionante, com perseguições ao redor do mundo e uma narrativa de espionagem alucinada, mas extremamente impessoal. Um filme quase sem emoção, que parecia ter sido feito apenas para impressionar pela sua técnica, e no qual uma série de novos modelos de carros, navios e aviões explodiam na tela como uma obra de pop art feita para nossa pura diversão sensorial. Se o plano era dar uma banana para a crítica e apelar diretamente ao público – e sua obsessão por novos brinquedos e bugigangas divertidas –, a empreitada foi um sucesso; ainda que, para isso, Lasseter tenha entregado uma história que esvazia toda o espírito do primeiro filme, e tenhamos aqui apenas um fio de ideia a conduzir a história: a importância da amizade e da confiança em um mundo um tanto quanto caótico.
Universidade Monstros foi outra empreitada estranha a sair dos estúdios Pixar: uma prequel que mostrava como os personagens principais do filme original, James Sulley e Mike Wazoski se conheceram e como se tornaram grandes amigos. O filme joga com nossas expectativas ao apresentar Sulley como um arrogante e Mike Wazoski como um diligente estudante preparando-se para uma carreira de “assustador”. Mas nada nesta história lembra o emocionante e delicado filme original, parecendo mais um exercício narrativo do que propriamente um filme com algo a dizer. Isso fica ainda mais evidente quando descobrimos que um erro de continuidade entre os dois filmes foi aceito pelo “bem da produção”. No primeiro filme, Mike diz a Sulley que tem inveja dele desde a quarta série, e no novo filme, eles se conhecem na universidade. A decisão consciente, que envolvia o diretor do primeiro filme, Pete Docter, e o do novo, Dan Scalon, de não respeitar a narrativa original, entrega o clima de exercício narrativo em que o filme foi realizado.
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