A esquerda não é woke, de Susan Neiman
Susan Neiman desmonta todas as incongruências, falsas verdades e os conceitos que sustentam a ideologia woke.
Publicado no Brasil pela editora Âyiné, A esquerda não é woke, da filósofa americana Susan Neiman, é um dos mais recentes livros a questionar o movimento woke, movimento que tem em seu centro a defesa de políticas identitárias e o despertar de ações e práticas reparatórias em benefício de grupos historicamente marginalizados. Os ativistas e ideólogos woke trocaram valores caros à esquerda tradicional - como o pertencimento a uma classe social e o universalismo - por valores reducionistas, com foco em duas dimensões da experiência humana: raça e gênero.
Tal crítica ao movimento woke não é novidade, podemos traçar sua origem no livro de Walter Benn Michaels, The trouble with diversity (2006), que discute a ideia de que mais importante do que divisões culturais ou raciais, o verdadeiro problema das sociedades são as discrepâncias econômicas. Na ressaca progressista diante da eleição de Donald Trump em 2026, Mark Lilla escreveria O progressista de ontem e do amanhã, livro que é uma anatomia dos erros políticos que levaram a uma profunda desconexão entre o Partido Democrata e os eleitores americanos e um manual para corrigir esses erros. Mas ainda ressentidos pela derrota acachapante, o campo progressista acusou o mensageiro, e as críticas de Lilla ao identitarismo woke colocaram-no na berlinda, hoje ele é visto como um autor...reacionário! Podemos citar também O Eu soberano, da psicanalista Elisabeth Roudinesco, que a partir do estudo de autores que deram fundamento intelectual ao movimento woke (Foucault, Lacan, Fanon, etc), mostra como aquilo que começa como libertação se torna uma prisão ególatra.
Susan Neiman irá buscar na filosofia suas ferramentas analíticas e com didatismo e paciência desmonta todas as incongruências, falsas verdades e os conceitos distorcidos de História, Política e Filosofia que sustentam a ideologia woke. Ao mesmo tempo ela tenta mostrar que a esquerda clássica ainda possui motivos para acreditar e lutar por um futuro menos desigual e esperançoso. Boa parte de seus argumentos será uma defesa dos valores do Iluminismo e a crítica a autores como Carl Smith, Heidegger e Foucault - bons leitores já imaginam que Neiman traça as origens do wokismo ao ideário nazista.
Neiman mostra como ao acusar e exigir reparações por conta dos erros e os abusos cometidos na história da Europa e do Ocidente, os identitários desprezam todas as conquistas políticas e sociais, e pior, reduzem estas conquistas a mera farsa, a mero exercício de poder que serve para encobrir interesses eurocêntricos e colonialistas. E em seu melhor momento ela deixa claro que há no movimento woke um DNA reacionário, totalitário, e capaz dos piores excessos em nome de sua luta: logo na introdução Neiman comenta como boa parte da esquerda woke celebrou o ataque terrorista do Hamas em outubro do ano passado, ataque que massacrou mais de 1200 cidadãos israelenses. Outra nota triste da pequenez desta esquerda é a decisão da editora francesa de sua obra, que não aceitou este seu novo trabalho por receio de alimentar a ascensão da direita no país.
A esquerda não é woke termina com algumas notas de esperança e um apelo à unidade das frentes democráticas e populares contra a ascensão do tribalismo fascista, nada contra, mas talvez seja bom comentar que boa parte da desilusão com a democracia tem suas fontes em problemas econômicos e sociais, portanto vale recomendar aqui que se leia o livro de Neiman em conjunto aos livros Emprecariado e Teoria da classe inadequada, de Silvio Lorusso e Raffaele Ventura, respectivamente - livros que desnundam as promessas e falácias das políticas econômicas neoliberais.
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