A harmonia impossível
Lançamento de A HARMONIA IMPOSSÍVEL, primeiro livro de poemas do Alexandre Sartório, um dos fundadores da [tc] e colaborador deste Boletim
A harmonia impossível
Vai sair na semana que vem, 22/06, um livro importante para a [trabalhar cansa]: A harmonia impossível, primeira recolha de poemas do Alexandre Sartório, um dos fundadores da [tc] e colaborador – um tanto sumido, é verdade – deste Boletim. A obra será publicada pela Patuá, de São Paulo, e por enquanto está em pré-venda exclusivamente no site da editora (mas em breve na [trabalhar cansa]):
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O evento de lançamento do livro acontecerá no sábado, dia 22/06, das 17h às 22h, na Livraria Patuscada, que fica na R. Luís Murat, 40 – Pinheiros, São Paulo. Se tiver um tempo, apareça:
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O jornalista, escritor e nosso ilustre colaborador Fabio Silvestre Cardoso capta bem as ideias centrais de A harmonia impossível no prefácio que escreveu para a obra:
Ao adotar a poesia como recurso para elaborar duas ideias centrais (a teologia da criação e a vida), Alexandre Sartório reintroduz essa forma de expressão como partícula elementar para renovar a sensibilidade de nossa percepção.
Os poemas caminham entre a forma fixa e o verso livre e solto, entre a linguagem mais formal, até arcaizante, e uma mais contemporânea e coloquial; têm referências mais ou menos diretas a poetas que escreveram há quatrocentos anos e a outros que estão criando neste momento – a forma dos versos peregrina pelo tempo, desprendida, porque é vasculhando livremente o tempo que os poemas buscam a permanência. A renovação da sensibilidade referida por Fabio Cardoso é essa exigência – ou melhor, esse pedido –, feita pelo poeta, de que os leitores caminhem com ele livremente por essas formas, pelo tempo, em busca de uma harmonia impossível e perene.
Para que o leitor localize A harmonia impossível – e veja se ele lhe interessa – na poesia brasileira, pode-se dizer que o livro tenta seguir o caminho aberto pela poesia espiritualista, corrente poética que se desenvolveu a partir do fim da década de 1920, e buscava dialogar com as tendências simbolistas da poesia moderna, trabalhava no cultivo da poesia pura, indissociável nesse caso, de uma meditação metafísica e da vida do espírito. Essa corrente contou com alguns poetas de primeiro escalão (não só do Brasil, mas do primeiro escalão da poesia em língua portuguesa), como Cecília Meireles, Jorge de Lima e Murilo Mendes; estes dois, aliás, publicaram em colaboração a recolha de poemas Tempo e eternidade (1935) – e assim podemos voltar ao assunto deste texto: a propaganda do livro do Alexandre.
Os poemas de A harmonia impossível têm um temperamento metafísico e tratam dessa singela relação: tempo e eternidade. Ou melhor: podemos retomar as palavras de Fabio Cardoso para dizer que, partindo de uma certa “teologia da criação”, A harmonia impossível busca refletir sobre a eternidade na “vida”. Se dessa busca particular algo se aproveita, avalie você, leitor.
Estão reproduzidos abaixo três poemas e a sinopse do livro:
Odisseia serena
O jarro é vazio, e no vaso não se vê Ulisses
singrar o tempo, gozar a tristeza, só
cercado por mares e ninfas, acossado e
protegido por numes, a desafiar os
rebentos dos deuses, no encalço da luz serena.
Mas há luz serena, não se sabe se sai do
vaso liso ou se nele pousa, ela misturada
às tintas sopra leve na superfície da tela.
Pra lá da moldura, ladeada pela cadeira de
trabalho em que você se sentava de ouvidos
cerrados com cera, Morandi, há outra janela,
que, aberta para a praça de cristal transparente,
sabe do silêncio do lar.
*
Pelas rachaduras
Entre a folhagem, pelas rachaduras
Da fronde deveria ser por elas
Que as lâminas de luz a cortar, belas,
Entram, como torrentes de anjos puras
Rompendo da alma repleta de agruras
O véu, ou trôpegos potros sem selas
Trespassando da noite sombrias telas,
Já pronta a trama de auroras futuras;
Porém não cruzava a trêmula fronde
Nem pó, apenas o vazio pela fenda
Entrou, e donde veio bafo quente
Eu esperava sua presença onde
É presença real a sua na tenda:
Senti só sua ausência me ver de frente.
*
Sobre sempre
Alguns momentos amontoam-se
uma pilha de tralhas
o olhar entre a parede nua
e as grades na tela por onde
o espírito como sangue pisado passeia,
a dor da traição de si: mesmo
tocáveis memórias, sob o terreno
morrem; as coisas luminosas todas,
a areia da praia de Camboriú
fértil do sal manhãs inteiras –
lassas no olvido, nascem ainda.
nasceram sempre.
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Sinopse:
A harmonia impossível, mais do que modelar novos céus e nova terra da palavra, busca as coisas permanentes. É o resultado do esforço de um poeta contemporâneo que vasculha a história da poesia, e tira dela lições da sabedoria contida nos frutos do labor dos poetas ao longo dos séculos. No livro, a vontade da métrica convive com formas contemporâneas de dar substância poética à palavra: há octossílabos, há decassílabos, rimados ou não, mas há também versos livres; alguns poemas fogem da forma fixa, mas há sonetos, uns camonianos, outros, não. Os poemas são feitos por vezes de uma linguagem solene, neobarroca e arcaizante, e outras, de uma linguagem mais simples, cotidiana e cristalina; primeiro aludem a Mallarmé e a Manuel Bandeira, para depois dialogar com o contemporâneo Jean-Pierre Lemaire. A linguagem poética caminha pelo tempo, buscando o que está fora do tempo. E é disso que os poemas tratam, daquilo que não passa em meio à torrente das nossas vidas. A harmonia impossível trata de vislumbres da eternidade.
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Encomendei meu exemplar, em pré-venda no site da Patuá.