A Ilíada e a Odisseia são obras que fundamentam aquilo que entendemos ser a base da nossa cultura. Escritas por volta de 700 a.C. elas apresentam os fundamentos da relação entre beleza e tragédia, glória e sangue, horror e eternidade, da Guerra e da Arte, que desde então são aquelas coisas ocultas que dão origem e sustentam as civilizações - ou marcam seu fim. Sendo mesmo a própria encarnação de um espírito. Seu nome significa “aquele que une” e seus poemas não são mitos, mas “composições artísticas, artefatos sabiamente organizados em torno de um acontecimento – a cólera de Aquiles, o retorno de Ulisses”, é com tais palavras que Pierre De La Combe condensa e sintetiza os dois poemas épicos de Homero em uma conferência realizada no teatro de Montreuil, nos arredores de Paris, em 2017, onde o helenista medita sobre as figuras de Aquiles e Ulisses, os heróis que cristalizam valores e modelos de vida para os gregos da Antiguidade.
Publicada agora pela Editora 34 na coleção Fábula, Aquiles ou Ulisses? serve tanto àqueles que estão dando os primeiros passos na leitura dos épicos gregos quanto aos que já conhecem os cantos homéricos em detalhes. Com erudição exuberante e plena, mas sem a arrogância típica dos acadêmicos de plantão, De La Combe elabora e tece interrogações e respostas que trazem à vida a ira, a solidão, o exílio e o heroísmo daqueles personagens arcaicos, em uma verdadeira arqueologia da alma grega.
Se Aquiles é um herói quase divino e vitorioso, tal se dá pelo preço de uma morte jovem da qual se arrependerá, tendo preferido a vida de um camponês, como diz a Ulisses no Hades. Já o rei de Ítaca é um sobrevivente, um homem de astúcia que supera infortúnios de uma jornada que o leva a conhecer e escapar de assombrosas utopias e terríveis armadilhas. Ambos representam um passado heroico, inalcançável para os homes do presente que viam naquelemodelo sua origem e salvação:
“Para um grego, a salvação acontecera no passado, no momento da guerra de Troia, quando os homens se tornaram equivalentes aos deuses. [...] Um grego antigo não possuía essa ideia de salvação futura, ele não pensava em termos de progresso ou de revolução por vir. Para ele, era preciso sobretudo conduzir bem a vida, evitar ser morto, capturado pelos inimigos ou escravizado, evitar um regime tirânico que, à maneira da escravidão, nos priva de liberdade. Era preciso ser livre, mas isso era uma questão de prudência, de estratégia de vida.”
E para aqueles que se perguntam se os fatos relatados na Ilíada e na Odisseia aconteceram de verdade, a resposta de De La Combe revela como a palavra, a imaginação, pode ser superior aos meros fatos históricos:
“Ulisses com certeza não existiu como tal. Aquiles também não [...] Os poemas, por sua vez, sim! Havia outros poemas contando a tomada de Troia, a morte de Aquiles e assim por diante.
...
Eu diria que a Ilíada existiu desde sempre, não tal qual, mas como poema da cólera de Aquiles, da crise dos deuses e dos homens. [...] A mesma coisa para a Odisseia.”
Como ensina De La Combe, a ira de Aquiles e as viagens de Ulisses estão distantes para nós, mas ao mesmo tempo seguem muito próximos de nossa humanidade compartilhada: as guerras ainda causam destruição e morte, devastando países, mutilando corpos, ódio e a misericórdia em embates avassaladores sobre a mente e o espírito dos homens; ainda somos tentados por utopias que prometem a eternidade, por tecnologias que fabricam mundos artificias de tentadora felicidade, e ainda sofremos diante de bárbaros que ameaçam devorar nossa existência com brutalidade irracional.
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