Flannery O’Connor, racismo, sofrimento e misericórdia em The Artificial Nigger - “O Crioulo Artificial”
A jornada dantesca de um avô e seu neto revelam a profunda e misericordiosa visão de mundo de Flannery O'Connor
Flannery O’Connor, racismo, sofrimento e misericórdia em The Artificial Nigger - “O Crioulo Artificial”
Por Dionisius Amendola
O centenário da escritora Flannery O’Connor passou discretamente, nos poucos textos escritos sobre a data, mais problematizaram sua obra do que a celebraram. Ponto de maior crítica, como não poderia deixar de ser em tempos de discussões ferrenhas sobre as várias formas de racismo, colonialismo europeu, branquitude e outras questões caras aos intelectuais, militantes e influenciadores hodiernos. Tais críticas atingiram não apenas os contos e romances da autora, mas até mesmo o recente filme Wildcat, inspirado na vida a obra da escritora sulista, dirigido por Ethan Hawke e protagonizado por sua filha, Maya Hawke, os elogios foram discretos, e críticas duras foram feitas acusando Hawke de minimizar as ações e o racismo da protagonista.
Talvez isso fosse esperado, afinal, já há alguns anos a Loyola University de Maryland removeu o nome de Flannery O’Connor de um de seus prédios. A justificativa da universidade é de que a escritora não “reflete os valores jesuíticos da universidade”. Uma declaração estúpida e chocante.
O tom acusatório com que se aborda a obra dessa escritora de talento, complexidade e imaginação únicas é rasteiro, pobre e mesquinho. Obviamente que nascida e criada no sul dos Estados Unidos nos anos 50, no seio de uma cultura intrinsecamente racista, O’Connor não poderia ser outra pessoa nem carregar outras culpas. Os elementos racistas em suas obras não são modelos dou peças de propaganda de uma ideologia supremacista, como, por exemplo, nos filmes nazistas feitos para propagar antissemitismo e retratar os judeus como uma raça inferior, mas, ao contrário, as histórias de O’Connor servem para expor o grotesco e expiar “o horror do racismo nas pessoas com quem ela vivia e em si mesma”.
Dos melhores contos para testemunharmos tal expiação é The Artificial Nigger, ou O Negro Artificial, ou em uma expressão mais agudamente racista, O Crioulo Artificial, incluído na edição nacional da Um homem bom é difícil de encontrar, coletânea de contos publicada pela editora Nova Fronteira.
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