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O insondável fantasma da vida (Educação sentimental e Moby Dick), parte 1

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O mergulho metafísico é fundamental para a grandeza de uma obra de arte.

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fev 05, 2025
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O insondável fantasma da vida (Educação sentimental e Moby Dick), parte 1
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O insondável fantasma da vida (metafísica em Educação sentimental e Moby Dick)

por Alexandre Sartório

Geroge Steiner

I

O crítico e ficcionista franco-americano George Steiner foi professor de literatura comparada nas Universidades de Genebra, Oxford e Harvard, e escreveu por décadas no Times literary supplement e na New Yorker. Composta por estudos sobre a linguagem, a tradução e a literatura, sua influente obra, que seguiu um caminho claro e solidamente estabelecido, à margem das modas passageiras da crítica do século XX, iniciou-se com o ensaio Tolstói ou Dostoiévski (1959), no qual já se manifestam as preocupações metafísicas, o corajoso julgamento estéticos e a dedicação devotada aos grandes da literatura ocidental, características marcantes de toda a carreira de Steiner. “A crítica literária deve brotar de uma dívida de amor” é a primeira frase da obra, e ela segue numa análise apaixonada, com espírito de ‘velha crítica’ – se afastando dos padrões do new criticism, dominantes na academia ocidental à época – da relação entre metafísica, biografia e estilo na obra dos dois gigantes russos. A questão da metafísica é central para primeira parte do livro, em que Steiner divide uma das maiores realizações da arte do Ocidente do século XIX, o romance, em duas correntes principais: de um lado, a realista europeia, e de outro a russa e a americana.

Flaubert

Apesar de sua grandiosidade, o mundo do romance realista europeu limita-se ao terreno e ao material, é prosaica no sentido não pejorativo do termo, restringe-se ao reino deste mundo, lida com o mundo que o liberalismo estava construindo:

“Moinhos de vento não são mais gigantes, mas moinhos de vento. Em troca, a ficção irá nos contar como os moinhos de vento são construídos, qual o seu rendimento, e, de maneira precisa, como eles soam em uma noite de ventania. Pois a genialidade do romance está em descrever, analisar, explorar e acumular os dados da atualidade e da introspecção.” (Steiner, pp. 13-14)

Tolstói

Enquanto isso, as literaturas russa e americana do mesmo período chegam a profundidades e alturas metafísicas a que se dedicaram os gigantes da literatura, Dante, Milton, Camões e companhia, e abandonadas no ocidente burguês. Por uma limitação de escopo, que reproduz no estilo uma visão de mundo, Madame Bovary ou Tempos difíceis não alcançam a vastidão de um Guerra e Paz ou a profundidade metafísica de Os Demônios; a arte de Flaubert era secular, a de Tolstói, religiosa: “Tolstói e Dostoiévski eram homens cuja genialidade estava nas mãos de um Deus vivo.” (Steiner, p. 31).

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