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O insondável fantasma da vida (Educação sentimental e Moby Dick), parte 2
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O insondável fantasma da vida (Educação sentimental e Moby Dick), parte 2

O olhar de Flaubert e seu estilo, tão belo e elegante quanto concreto e visual, são deste mundo.

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fev 07, 2025
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O insondável fantasma da vida (metafísica em Educação sentimental e Moby Dick)

por Alexandre Sartório

II

“No dia 15 de setembro de 1840, por volta das seis da manhã, o La Ville-de-Montereau, prestes a partir, lançava fumaça em grandes turbilhões diante do Quai Saint-Bernard.

As pessoas chegavam ofegantes; barricas, cabos, cestas de roupa atravancavam a circulação; os marujos não respondiam a ninguém; todos se esbarravam; os pacotes subiam entre os dois tambores, e a barulheira era absorvida no sussurro do vapor que, escapando pelas placas de metal, envolvia tudo com uma nuvem esbranquiçada, enquanto na proa a sineta tilintava sem parar.

Finalmente o navio partiu; e as duas margens, povoadas de armazéns, canteiros de obras e fábricas, desfizeram-se como duas fitas largas que se desenrolam.

Um rapaz de dezoito anos, de cabelos compridos e levando um álbum debaixo do braço, mantinha-se perto do leme, imóvel. Contemplava através do nevoeiro os campanários, os edifícios cujos nomes não sabia; depois abarcou, num último olhar, a ilha Saint-Louis, a Cité, a Notre-Dame; e logo, Paris desaparecendo, soltou um grande suspiro.”

Primeira página de A educação sentimental (Flaubert, p. 31).

*

O romance de formação A educação sentimental, que Gustave Flaubert (1821-1880) publicou em 1869, é uma grande lição sobre o movimento do mundo. Espelhado na vida e na alma de Frédéric Moreau, o protagonista da obra, o movimento do mundo moderno mostra sua inutilidade, sua condenação a voltar perpetuamente às cinzas que estão na nossa sua origem. A educação sentimental reflete sobre a vaidade do movimento. E a narrativa começa num movimento em meio às águas do Sena: o navio em que se encontra o jovem Frédéric está de partida para Nogent-sur-Seine, sua cidade natal para onde ele está voltando depois de passar brevemente por Paris, aonde voltaria mais tarde. Ele havia sido enviado pela mãe para tentar garantir uma herança que seria muito bem-vinda. No navio, acontece o encontro que mudaria o destino de Frédéric: ele conhece o sr. Arnoux e sua esposa, a “aparição” que arrebata seu coração e orienta os grandes movimentos de sua vida.

O início da narrativa é como uma linha de produção posta em movimento: a data, a hora e o local são precisos; o navio lançava fumaça pelos ares, em grandes turbilhões, como o barulho furioso da máquina que dita o movimento do pequeno mundo de uma fábrica: o segundo parágrafo é uma colagem de objetos e pessoas em ação, uma série de pinceladas rápidas genial de Flaubert que nos põe no meio do tumulto em movimento, desde o ponto de vista do protagonista: o caminho está atravancado, mas as pessoas se esbarram e circulam; os ruídos do navio são tão altos que absorve o barulho da circulação tumultuosa das pessoas. A palavra, bela e precisa, nos constrói o mundo, concreto e em incessante mudança, barulhento e enfumaçado. A cidade mesma não está imóvel, o capitalismo borbulhante dita seu ritmo, com os canteiros de obras ativos em torno do cais, e as fábricas e armazéns que garantem que as mercadorias sejam produzidas e circulem. Esse mundo mesmo é como uma fábrica – uma fábrica a produzir um novo mundo.

Depois desse breve panorama, a narrativa se fecha no protagonista, Frédéric, que não sabe nomes dos locais que vê à sua frente além dos mais famosos (Notre-Dame, e as Ilhas), pois é inexperiente e sonhador. E Paris suspira com ele, que deseja escapar logo da modorra da província para mergulhar no movimento incessante da cidade. Ele é um tipo romântico com uma alma a ponto de se consumir num fogo intenso e disperso que procura um objeto que orientaria suas paixões e ambições, que o rapaz encontra, durante a viagem, na sra. Arnoux. Ao longo do livro, é ela que inspirará projetos, períodos de empolgação e gastanças do dinheiro que ele ganha.

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