Uma entrevista com Paolo Giordano
"Somos todos especialistas em alguma coisa, mas também vivemos em um mundo que entendemos cada vez menos."
Uma entrevista com Paolo Giordano
Paolo Giordano é autor de um dos melhores livros publicados este ano em terras brasileiras, Tasmânia, editado pela Âyiné, e narra na primeira pessoa, à maneira de um diário ou de uma crônica, os acontecimentos pessoais da vida do protagonista, um ex-físico que compartilha iniciais, profissão e idade com o autor.
Essa entrevista que compartilhamos foi publicada no Infobae - e é uma excelente!
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Boa leitura!
“Ele é um homem de quarenta anos”, diz Giordano, “casado com Lorenza, uma mulher mais velha que ele que já tem um filho de um relacionamento anterior. “Ele havia colocado a ideia de ser pai no centro de sua vida naquela época, mas depois percebeu que isso não vai acontecer.”
Como costuma acontecer em casais quando termina algo em que acreditaram juntos, os personagens se perguntam se conseguirão continuar o relacionamento. No caso de PG, a crise de relacionamento se soma às dúvidas em relação ao seu trabalho, que na época consistia na pesquisa para um livro sobre bombas atômicas, e ao vínculo de amizade que mantém com um jornalista e com dois colegas da área de Ciência. A amizade e o trabalho levam-no, ao longo das páginas, de Roma a Turim, a Barcelona, a uma Paris abalada por ataques terroristas e também a Hiroshima e Nagasaki.
Cada um dos elos aparece atravessado por acontecimentos globais atuais do período entre 2015 e 2020, como as alterações climáticas, a poluição, o conservadorismo, a desigualdade salarial, o feminismo e a invisibilidade das mulheres no campo científico, a cultura cancelada, a “vida” agitada no redes sociais e até o suicídio de jovens.
“Há [também] muitas nuvens na Tasmânia”, continua o autor. São formas pelas quais projetamos fantasias, onde vemos rostos de animais na infância. Têm um significado científico porque… um dos efeitos estudados nas alterações climáticas é a mudança nas nuvens. E isso me impactou.” Refere-se a um dos amigos do protagonista, o cientista Jacopo Novelli, que, aliás, descobriu no estudo das nuvens uma das chaves para compreender as mudanças climáticas. Esse personagem, porém, não consegue compreender outros fenômenos, mais próximos e tangíveis.
No contexto desta grande crise planetária, o protagonista não admite a possibilidade de abrir mão de um desejo e por isso vive imerso em contradições. A Tasmânia não se propõe a conciliá-los, mas, através da história e dos personagens, procura de alguma forma passar por este momento, que considera como o início de uma mudança profunda, talvez uma catástrofe ou talvez uma oportunidade.
“Quando eu ainda fazia doutorado em física teórica, trabalhava em uma especialidade chamada fenomenologia, a descrição de fenômenos. Na Tasmânia quis fazer o mesmo, limitar-me a descrever as partículas físicas dos fenómenos da existência hoje, o que é bastante difícil”, afirma.
Gabriela Schevach - Você deixou a física após o sucesso de seu primeiro romance. Pode-se dizer então que na sua vida pessoal, como na Tasmânia, as decisões são influenciadas pelos acontecimentos da realidade?
Paolo Giordano - É verdade. Na verdade, estamos numa época em que tendemos a dar muita importância à nossa vontade, a imaginar os processos da nossa vida como uma ação da nossa vontade. Na realidade, os acontecimentos externos muitas vezes nos atingem e modificam a nossa vida de forma mais profunda do que estamos dispostos a aceitar. Em Tasmânia quis contar como os acontecimentos do presente global modificam intimamente a vida dos personagens.
GS - Há também uma interação entre os acontecimentos atuais e a realidade, considerando que são duas coisas diferentes: por um lado, os acontecimentos atuais, tal como apresentados na informação e, por outro, a realidade da própria experiência.
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